“Vice” e o poder estratégico do silêncio

Parar a rotina puxada em prol do entretenimento não é uma tarefa fácil. Mas, após muitas recomendações, inclusive do prof. Marcelo Vitorino ao longo da “Imersão Eleições – Pré-campanha”, evento do qual tive o prazer de participar na Capital Federal, me esforcei para encontrar um tempo que pudesse dedicar ao filme “Vice”, disponível no Prime Vídeo. Não me arrependi, aprendi muito mais do que esperava e adicionei um novo título na lista dos meus favoritos. O longa, dirigido por Adam McKay e estrelado brilhantemente por Christian Bale, conta de uma forma inteligente e peculiar a trajetória do ex-vice-presidente norte-americano Dick Cheney.

De autoria desconhecida, a intrigante citação “Cuidado com um homem calado. Enquanto os outros falam, ele observa. E enquanto os outros agem, ele planeja. E quando finalmente descansam… ele ataca“, surge no roteiro como um ponto de partida para o mergulho na ascensão e influência política de Cheney, mostrando como suas características silenciosas mascararam um poderoso jogo de bastidores e estratégias de marketing político.

Ao longo de sua carreira, o vice no governo de George W. Bush adotou uma abordagem discreta e reservada, evitando os holofotes enquanto acumulava um impressionante capital político por meio do conhecimento profundo dos cenários e da construção de uma rede de conexões influentes. Essa tática lhe permitiu operar nos bastidores, influenciando decisões cruciais sem chamar muita atenção.

A citação volta à nossa mente em vários momentos nas mais de duas horas de filme e destaca como Cheney usava sua capacidade de observação para entender os atores políticos ao seu redor. Essa habilidade permitia que ele identificasse as fraquezas e aspirações de seus colegas, dando-lhe uma vantagem estratégica significativa. Sua natureza quieta o ajudou a cultivar relacionamentos e a coletar informações valiosas, elementos cruciais no marketing político.

O planejamento meticuloso de Cheney é outro aspecto fundamental abordado no longa. Enquanto outros estavam focados no cenário imediato, ele estava constantemente traçando estratégias de longo prazo. Ele compreendia que o poder político não era apenas sobre ocupar cargos, mas sim sobre influenciar políticas e direcionar a agenda nacional.

A frase estampada no início do filme também ressoa quando Cheney “ataca” e mostra incrível capacidade de tomar decisões com timing e determinação. Sua abordagem cautelosa lhe permitia esperar pelo momento oportuno para agir e implementar suas políticas, frequentemente com impacto duradouro. Essa qualidade é evidente em sua influência sobre questões como a Guerra do Iraque e as políticas de segurança nacional após o fatídico 11 de setembro de 2001.

Do ponto de vista do marketing político, Cheney usou sua personalidade aparentemente monótona e reservada a seu favor. Ao subestimarem sua presença e suas ambições, seus oponentes e o público em geral ficaram desprevenidos quanto à profundidade de sua influência. Esse contraste entre sua imagem pública e sua habilidade estratégica real é uma lição valiosa sobre como a percepção pode ser moldada para se alinhar aos objetivos políticos.

A trajetória de Dick Cheney é um lembrete poderoso de que nem sempre o poder político se manifesta de maneira ruidosa e visível. Às vezes, está nas mãos daqueles que optam por observar, planejar e atacar no momento certo, utilizando suas habilidades para moldar o curso da história.

O Pop não poupa ninguém, nem mesmo os políticos

Artigo publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco do dia 27 de Julho de 2023

A aproximação entre a política brasileira e a cultura pop tem se tornado uma tendência marcante nos últimos anos. O filme da icônica boneca Barbie gerou trends e memes replicados por milhões de pessoas em todo o mundo, e durante a semana de lançamento do longa-metragem, as redes sociais de políticos e órgãos públicos se encheram de imagens e vídeos, onde tons de rosa coloriam os feeds dos seguidores. Até o ex-presidente Michel Temer entrou na onda, publicando um vídeo (excluído posteriormente), no qual aparece caracterizado como o boneco Ken, par romântico da personagem principal.

Essa utilização de artifícios midiáticos, a presença de figuras da classe artística e o uso de referências da cultura pop têm sido estratégias adotadas pelos políticos com o intuito de alcançar um público mais amplo e diversificado. Acredito que duas razões principais embasem essa escolha. Em primeiro lugar, a cultura pop se revela uma forma altamente eficaz de comunicação, capaz de atingir um público vasto e estabelecer conexões emocionais profundas. Em segundo lugar, a cultura pop é de fácil acesso e familiaridade ao grande público, tornando-se uma ferramenta atrativa para a política, dada sua capacidade de se inserir no consciente coletivo.

Tal como eu, todos os estrategistas de comunicação e marketing político adoram surfar nas ondas das tendências do momento, especialmente quando elas estão ancoradas em fenômenos midiáticos, como no caso de Barbie. Isso se deve à potencialização que tal abordagem confere ao processo comunicacional. Um dos benefícios notáveis é tornar a política mais acessível às pessoas. Quando os políticos se utilizam da cultura pop, conseguem comunicar-se em níveis mais pessoais e em linguagem mais acessível. Outro aspecto favorável é que a cultura pop pode tornar a política mais atraente para os jovens, pois essa geração possui grande afinidade com a cultura pop e consome-a avidamente. Ao utilizar referências pop, os políticos podem conectar-se com os jovens e motivá-los a engajarem-se na política.

Entretanto, por mais atrativo que seja o engajamento resultante, expor-se por meio da cultura pop pode também trazer riscos. O entendimento mais fundamental neste sentido é entender que a política não deve ser reduzida a um mero espetáculo midiático, onde o entretenimento sobrepõe-se à seriedade dos problemas enfrentados. O próprio político que se rende à tentação de seguir uma trend como a da Barbie sem uma estratégia bem definida vai atrair os holofotes para si mesmo, revelando, em muitos casos, a falta de entregas e comprometimento com a população.

Ademais, a glamorização da política por meio de associações com o mundo pop pode criar uma ilusão de competência e habilidade que nem sempre se traduz em efetivas mudanças sociais. E, em um nível mais grave, o apelo emocional e a ênfase na imagem podem levar a um engajamento superficial dos eleitores, comprometendo o debate informado e a participação consciente na democracia.

Nesse contexto, é crucial utilizar esse artifício de forma responsável, como uma ferramenta para conectar-se com os eleitores e, ao mesmo tempo, promover debates informados e soluções concretas para os problemas do cotidiano. A política deve ir muito além do entretenimento; deve ser o meio de transformar a realidade e melhorar a vida dos cidadãos.

Como cantam os Engenheiros do Hawaii: “Qualquer coisa que se mova é um alvo e ninguém tá salvo… O pop não poupa ninguém!“, nem mesmo os políticos. Por isso, é necessário um equilíbrio cuidadoso entre a abordagem pop e o compromisso com a responsabilidade, a seriedade e a efetividade na atuação política. Somente assim será possível ser pop, conquistar o apoio verdadeiro da população e efetivamente fazer a diferença no cenário político do país.

Israel Leal é jornalista, consultor e diretor do CT do Marketing Político (euisraelleal@gmail.com)

“Os Engenheiros do Caos” e a inelegibilidade de Bolsonaro

A mente humana é um campo fértil onde a engenhosidade política pode semear a discórdia ou cultivar a esperança. Em ‘Os Engenheiros do Caos’, Giuliano Da Empoli mergulha em uma análise profunda dos bastidores do mundo digital e revela como estrategistas políticos têm explorado as redes sociais para manipular a opinião pública. Nesta obra, o autor desvenda as táticas obscuras usadas para criar crises, gerar polarização e moldar a percepção das massas.

Traçando um paralelo com o julgamento de Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), percebemos a importância de compreender o poder da comunicação política no contexto eleitoral. Por mais que o objeto da matéria julgada não seja voltado diretamente para as redes sociais bolsonaristas, o desfecho desse julgamento teve um impacto significativo, resultando na condenação e inelegibilidade do ex-presidente do Brasil pelos próximos oito anos. E tudo cai na conta de uma estratégia de comunicação orientada para a polêmica e para o contraditório.

Durante seu mandato, Bolsonaro utilizou amplamente as redes sociais como plataforma de comunicação direta com seus eleitores. Seus discursos incisivos e polarizadores ecoaram fortemente na internet, alcançando um público considerável e gerando debates acalorados que romperam a barreira do digital e pautaram o noticiário político em todas as mídias tradicionais. Essa habilidade em engajar a base de apoio foi uma das características marcantes de sua campanha eleitoral e de sua gestão.

No entanto, é fundamental refletir sobre o impacto dessa estratégia de comunicação política no contexto democrático. Da Empoli destaca em seu livro como o uso indiscriminado das redes sociais pode gerar uma desestabilização da ordem política, manipulando informações e gerando tensões sociais. O julgamento no TSE é um reflexo da preocupação das instituições em garantir eleições livres e justas, protegendo a integridade do processo democrático. Um recado em alto e bom som que deve ser levado em consideração pelos estrategistas e comunicólogos políticos.

Sem entrar no mérito do certo ou errado na comunicação bolsonarista ou de qualquer outro grupo político, precisamos ressaltar a importância de um debate público esclarecedor, baseado em informações confiáveis e responsáveis. Os novos meios de interação social e as novas tecnologias favorecem o surgimento de canais duvidosos e mensagens desgarradas da verdade. A sociedade precisa ser capaz de discernir entre estratégias políticas manipuladoras e propostas genuínas para uma governança efetiva.

A condenação e inelegibilidade de Jair Bolsonaro por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação representa um lembrete de que, embora as redes sociais e os demais meios de comunicação sejam ferramentas poderosas que podem ser utilizadas tanto para o bem quanto para o caos, elas não são “terra de ninguém”. Como cidadãos, devemos estar atentos aos mecanismos que moldam nossa percepção e questionar a veracidade das informações que nos são apresentadas. E como profissionais de comunicação precisamos nos comprometer ainda mais com a verdade, independentemente do tipo de estratégia que utilizaremos. Somente assim poderemos ajudar a construir uma sociedade mais crítica, resiliente e democrática.

Como a Inteligência Artificial vai eleger o próximo prefeito da sua cidade

*Artigo publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco, em 13 de junho de 2023

As eleições municipais estão se aproximando, e um novo competidor está entrando em cena: a Inteligência Artificial (IA). Com a rápida evolução tecnológica, as campanhas eleitorais estão se adaptando às novas possibilidades oferecidas pela IA para fortalecer suas estratégias e aumentar as chances de vitória. Neste artigo, exploro como a IA pode revolucionar o cenário político e se tornar um elemento crucial para eleger o próximo prefeito de qualquer cidade no pleito de 2024.

Um estudo realizado pela consultoria McKinsey & Company revelou que 84% dos profissionais de marketing consideram a IA uma tecnologia essencial para o sucesso de suas estratégias. A IA oferece uma gama de ferramentas que permitem segmentar eleitores com precisão e personalizar as mensagens de campanha. Ao analisar dados demográficos, histórico de votação e preferências dos eleitores, a IA ajuda a identificar os grupos mais suscetíveis a serem persuadidos, direcionando esforços e recursos de forma eficiente.

Além disso, a IA pode otimizar as estratégias de campanha por meio de algoritmos de aprendizado de máquina. Ao analisar dados eleitorais e preferências dos eleitores, a IA identifica padrões e insights valiosos. Com base nessas informações, é possível alocar recursos, como tempo e dinheiro, de maneira mais eficiente, direcionando-os para áreas e grupos que têm maior probabilidade de responder positivamente à campanha.

Publicado na revista Nature Human Behavior, um estudo recente demonstrou que a IA pode ser também uma poderosa aliada no monitoramento e prevenção da disseminação de notícias falsas durante as eleições. Por meio de algoritmos sofisticados, a IA é capaz de analisar grandes volumes de dados em tempo real, identificando padrões de desinformação e detectando informações enganosas. Isso contribui para a proteção da integridade do processo eleitoral e fortalece a confiança dos eleitores nas campanhas.

A IA também tem sido fundamental no campo do marketing eleitoral digital. As principais plataformas utilizam algoritmos de IA para segmentar anúncios políticos, direcionando-os de maneira mais eficaz para o público-alvo. Segundo a Meta, empresa por trás de Facebook e Instagram, a utilização da IA na segmentação de anúncios resultou em um aumento médio de 35% no engajamento dos usuários e uma redução de 25% nos custos de publicidade.

No próximo pleito municipal, é essencial que os candidatos estejam atentos às oportunidades oferecidas pela IA e busquem aproveitá-las em suas campanhas. Fica evidente que a IA desempenhará um papel extremamente relevante no fortalecimento das campanhas eleitorais e no aumento das chances de vitória. Com a capacidade de segmentar eleitores, otimizar estratégias, personalizar mensagens e combater a desinformação, a IA se torna uma aliada indispensável para os candidatos que buscam conquistar o apoio do eleitorado.

Em conclusão, a Inteligência Artificial está transformando a maneira como as campanhas eleitorais são conduzidas. No próximo pleito municipal, é provável que as campanhas vencedoras sejam aquelas que souberem aproveitar o poder da IA para se conectar com os eleitores, entender suas necessidades e apresentar propostas relevantes.

Israel Leal – Jornalista, especialista em Marketing Político e diretor da agência Inexxus Boa Viagem e do CT do Marketing Político (euisraelleal@gmail.com)

Ganhar de Lavada: leitura obrigatória para profissionais do Marketing Político

Sinopse: Scott Adams foi uma das primeiras figuras públicas a prever a vitória de Trump, mais ou menos uma semana depois do renomado estatístico Nate Silver colocar suas chances em 2%. Mas Adams reconheceu em Trump um nível de persuasão que só se vê uma vez na vida.

O marketing político desempenha um papel crucial em campanhas eleitorais e mandatos bem-sucedidos. Neste artigo, vamos explorar o livro Ganhar de Lavada escrito por Scott Adams, um autor renomado e especialista em persuasão. A obra faz uma análise da espantosa vitória de Donald Trump para presidente dos EUA nas eleições de 2016 sob a ótica da sua forma eficaz de persuadir eleitores com informações imprecisas ou inverídicas.

Sabendo que estratégias eficazes de marketing político têm o poder de influenciar eleições e criar uma imagem positiva para os candidatos, é nesse contexto que Ganhar de Lavada se destaca, fornecendo insights valiosos para profissionais de marketing político.

Scott Adams: Um Especialista em Persuasão
Scott Adams é um autor renomado e especialista em persuasão, conhecido por seu sucesso com o famoso quadrinho Dilbert. Sua experiência em marketing e sua habilidade em criar mensagens persuasivas o levaram a escrever Ganhar de Lavada. Adams oferece uma perspectiva única sobre como a persuasão pode ser aplicada ao marketing político.

Trata-se de um livro que aborda estratégias persuasivas aplicáveis ao marketing político. Adams apresenta uma visão abrangente sobre como influenciar o comportamento humano por meio de técnicas persuasivas éticas. Ele explora como criar conexões emocionais com o eleitorado e como adaptar as estratégias de persuasão às necessidades específicas do marketing político.

Na obra, Adams destaca o poder da persuasão e sua influência no comportamento humano. Ele apresenta técnicas e estratégias práticas que os profissionais de marketing político podem utilizar para alcançar resultados significativos. Adams também compartilha exemplos e estudos de caso relevantes para ilustrar a eficácia dessas estratégias.

Conexão Emocional com o Eleitorado

Uma das ênfases de Adams é a importância de estabelecer uma conexão emocional com o eleitorado. Ele explora como criar empatia e confiança, fundamentais para fortalecer o vínculo entre candidatos e eleitores. Adams fornece insights valiosos sobre como adaptar mensagens e discursos para atingir as emoções dos eleitores e motivá-los a agir.

Tendências Emergentes no Marketing Político

Além das estratégias tradicionais de marketing político, Adams também analisa as tendências emergentes nesse campo. Ele explora o uso eficaz das mídias sociais, a importância da análise de dados e a personalização das mensagens para atingir os eleitores de forma mais precisa e impactante. Ao abordar essas tendências, Adams capacita os profissionais de marketing político a se adaptarem às demandas em constante evolução do cenário político.

Ganhar de Lavada, de Scott Adams é, portanto, uma leitura obrigatória para profissionais de marketing político. Com insights valiosos sobre persuasão e estratégias eficazes, o livro oferece orientação prática para alcançar o sucesso em campanhas eleitorais e mandatos. Ao aplicar as ideias apresentadas por Adams, você estará em vantagem na busca por resultados impactantes e positivos. Não deixe de explorar as estratégias persuasivas e adaptá-las às necessidades do marketing político.