Como a Inteligência Artificial vai eleger o próximo prefeito da sua cidade

*Artigo publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco, em 13 de junho de 2023

As eleições municipais estão se aproximando, e um novo competidor está entrando em cena: a Inteligência Artificial (IA). Com a rápida evolução tecnológica, as campanhas eleitorais estão se adaptando às novas possibilidades oferecidas pela IA para fortalecer suas estratégias e aumentar as chances de vitória. Neste artigo, exploro como a IA pode revolucionar o cenário político e se tornar um elemento crucial para eleger o próximo prefeito de qualquer cidade no pleito de 2024.

Um estudo realizado pela consultoria McKinsey & Company revelou que 84% dos profissionais de marketing consideram a IA uma tecnologia essencial para o sucesso de suas estratégias. A IA oferece uma gama de ferramentas que permitem segmentar eleitores com precisão e personalizar as mensagens de campanha. Ao analisar dados demográficos, histórico de votação e preferências dos eleitores, a IA ajuda a identificar os grupos mais suscetíveis a serem persuadidos, direcionando esforços e recursos de forma eficiente.

Além disso, a IA pode otimizar as estratégias de campanha por meio de algoritmos de aprendizado de máquina. Ao analisar dados eleitorais e preferências dos eleitores, a IA identifica padrões e insights valiosos. Com base nessas informações, é possível alocar recursos, como tempo e dinheiro, de maneira mais eficiente, direcionando-os para áreas e grupos que têm maior probabilidade de responder positivamente à campanha.

Publicado na revista Nature Human Behavior, um estudo recente demonstrou que a IA pode ser também uma poderosa aliada no monitoramento e prevenção da disseminação de notícias falsas durante as eleições. Por meio de algoritmos sofisticados, a IA é capaz de analisar grandes volumes de dados em tempo real, identificando padrões de desinformação e detectando informações enganosas. Isso contribui para a proteção da integridade do processo eleitoral e fortalece a confiança dos eleitores nas campanhas.

A IA também tem sido fundamental no campo do marketing eleitoral digital. As principais plataformas utilizam algoritmos de IA para segmentar anúncios políticos, direcionando-os de maneira mais eficaz para o público-alvo. Segundo a Meta, empresa por trás de Facebook e Instagram, a utilização da IA na segmentação de anúncios resultou em um aumento médio de 35% no engajamento dos usuários e uma redução de 25% nos custos de publicidade.

No próximo pleito municipal, é essencial que os candidatos estejam atentos às oportunidades oferecidas pela IA e busquem aproveitá-las em suas campanhas. Fica evidente que a IA desempenhará um papel extremamente relevante no fortalecimento das campanhas eleitorais e no aumento das chances de vitória. Com a capacidade de segmentar eleitores, otimizar estratégias, personalizar mensagens e combater a desinformação, a IA se torna uma aliada indispensável para os candidatos que buscam conquistar o apoio do eleitorado.

Em conclusão, a Inteligência Artificial está transformando a maneira como as campanhas eleitorais são conduzidas. No próximo pleito municipal, é provável que as campanhas vencedoras sejam aquelas que souberem aproveitar o poder da IA para se conectar com os eleitores, entender suas necessidades e apresentar propostas relevantes.

Israel Leal – Jornalista, especialista em Marketing Político e diretor da agência Inexxus Boa Viagem e do CT do Marketing Político (euisraelleal@gmail.com)

Como iniciar a pré-campanha eleitoral

O encerramento de um período eleitoral marca o início de outro. Após as definições democráticas, é a vez das especulações voltarem a campo, dando novos movimentos ao xadrez político que cada vez mais demanda por estratégias bem construídas que possam gerar campanhas mais tranquilas e menos custosas. E dentro de qualquer estratégia, alguns fatores são fundamentais para a ampliação das chances de sucesso. Um deles (e talvez o mais importante) é o tempo. Todos os pré-candidatos a qualquer cargo eletivo em 2024 estão com este ativo em mãos nesse momento. Fará toda a diferença saber trabalhar com o tempo a partir de agora e diluir, ao longo de quase dois anos, todo um planejamento que culminará no dia das próximas eleições.

Além desse cuidado especial com o tempo, tenho dito a todos os pré-candidatos que me procuram para iniciar a pré-campanha que existem outros quatro pilares que devem ser erguidos e reforçados ao longo deste período. São eles: diagnóstico preciso e sincero do ambiente; branding e reputação; excelência no marketing digital; e nutrição cuidadosa de leads.


O primeiro ponto, o de diagnóstico, compreende entender bem qual o ponto de partida. Quais as forças, fraquezas e toda a conjuntura atual que precisa ser trabalhada para fundamentar um planejamento que resulte em vitória. Como ferramentas, devem ser utilizadas pesquisas qualitativas e quantitativas, análises de SWOT e softwares mapeamento de presença online. O trabalho de branding e de reputação, importantíssimo para qualquer um que tenha pretensões eleitorais, é outo ponto desse pilar. É aqui que se entrega ao possível eleitor motivos para que o nome de alguém seja cogitado como representante do povo. Neste ponto é fundamental o apoio técnico de quem possa ajudar a adequar a imagem de quem será lançado com as necessidades de quem vai votar.

O marketing digital surge como terceiro pilar e vem se consolidando mais a cada eleição dentro do marketing político-eleitoral. As novas estratégias de mobilização, comunicação e publicidade digital trouxeram aos que decidiram utilizar a inteligência de mercado ao seu favor o voto de um eleitor cada vez mais consciente do seu papel como cidadão. É um erro mortal ignorar os avanços e as tendências comportamentais e tecnológicas do momento e o trabalho profissional de marketing digital vai também colaborar com o último pilar, que certamente é o menos explorado hoje no marketing político: a captura de contatos qualificados, os chamados leads. Dados de contato do eleitor-alvo são como um diamante que pode ser lapidado ao longo do tempo por meio de uma comunicação segmentada e assertiva. Oportunidade única de conversar diretamente com o cidadão, falando o que ele quer ouvir ao mesmo tempo em que lhe é dado a possibilidade de feedbacks.

Concluo reforçando que é necessário quebrar paradigmas sobre eleição, esquecer algumas velhas práticas e adaptar outras. Mesmo após toda a evolução dos últimos pleitos, muitos bons candidatos têm se perdido na busca pelo voto ao fechar os olhos para as tendências. É tempo de estudar essas novidades e planejar as ações dos próximos meses. A execução de um planejamento robusto e focado nestes cinco pilares certamente irá proporcionar mais chances de êxito, e uma jornada mais tranquila até 2024.

Israel Leal é diretor do CT do Marketing Político e da agência Inexxus Boa Viagem – euisraelleal@gmail.com

A fábula do eleitor

A fábula do eleitor

O personagem principal desta fábula é o Eleitor, que pode ser qualquer pessoa que possua sonhos, desejos e dores sociais que precisam ser curadas. Periodicamente o Eleitor recebe a visita de candidatos a receberem o Voto, poder especial concedido a apenas aquele ou aquela que vencer um duelo de narrativas. Somente aquele que passar pelos crivos do Eleitor levará o voto e o poder que o acompanha.

A primeira visita que o Eleitor recebeu foi do Egocêntrico, sujeito que apareceu cheio de enfeites e de brilho, que não parava de falar sobre si mesmo. O anfitrião tratou logo de mandar-lhe embora, pois o Egocêntrico não passaria nunca pelo crivo da humildade. Enquanto o Eleitor gostaria de ouvir soluções para seus problemas e oportunidades que impulsionassem seus sonhos, o Egocêntrico tinha um discurso centrado em exaltar sua própria imagem. Enquanto isso, chegava pelos correios uma carta do Candidato Sensato. No documento, Sensato pedia gentilmente para que a correspondência fosse devolvida ao remetente com as respostas para duas perguntas: “Como é sua vida hoje?” e “Como ela pode ser melhor amanhã?”.

A segunda visita que chegou foi a do Dissimulado, um cara já famoso por tentar conquistar o voto com as moedas das inverdades. Alguém que sempre tenta encantar os outros através da lorota. Porém, a fama de enganador do Dissimulado já era conhecida por todos e assim, o Eleitor o pôs para fora de casa, sabendo que ele nunca passaria pelo crivo da honestidade. Logo depois, Sensato passou na frente de sua porta, avisou que uma tempestade estava porvir e pediu para que o Eleitor se abrigasse.

Passada a chuva, o terceiro candidato, o Antipático, logo surgiu à porta e, sem nem ao menos perguntar se o Eleitor estava bem após a tormenta, ele entrou e começou a dizer que era ele o merecedor da dádiva do voto. Enquanto o Eleitor ouvia, precisava organizar o estrago deixado pela tormenta, mas o Antipático continuava ali, com sua roupa impecável, sua oratória sem defeitos e nenhum sinal de que havia passado algum perrengue durante a chuvarada. Já sem paciência, o Eleitor pediu para que o Antipático se retirasse pois, definitivamente, ele não passaria pelo crivo da sensibilidade. Em seguida, Sensato apareceu com as vestes sujas de lama perguntando se o Eleitor precisava de ajuda para colocar a casa em ordem.

No dia seguinte, bateu a porta um dos piores candidatos que existem; o Arrogante. Esse nem quis se apresentar, seu discurso foi direto, perguntando o que o Eleitor queria em troca do voto que possuía consigo. Eleitor, que não é um sujeito besta, disse que precisava de um novo telhado para sua casa. Mas ao receber o que pediu, conseguiu enrolar o Arrogante que saiu do local achando que receberia seu prêmio. Porém, para o Eleitor, ficava claro que aquele sujeito não passaria pelo crivo da integridade. Quase que no mesmo instante, chegava um convite do Sensato para um jantar na sua casa.

À noite, esse foi o destino do Eleitor, que queria saber mais sobre aquele sujeito que parecia estar tão interessado em entender sua realidade e em ajudar a melhorar sua vida. A casa do Sensato era simples e humilde, como a do Eleitor. A comida era boa, mas não havia extravagância. A conversa era convidativa e todos os presentes tiveram a chance de conhecer mais sobre o Sensato, ao mesmo tempo em que também eram ouvidos e entendidos pelo anfitrião.

Chegado o dia da escolha, o Eleitor não teve dúvidas. Entre todos os candidatos que o abordaram, apenas o Sensato o tratou de forma humanizada e mostrou o real interesse em ajudar. Ele passou por todos os crivos e, por isso, o prêmio do voto a ele foi entregue.

Esta fábula está em curso neste exato momento. Candidatos tentam passar pelos crivos estabelecidos pelos eleitores e os eleitores buscam nos candidatos alguém digno de serem contemplados com seus votos. Mas, diferente de uma fábula que tem como finalidade apresentar uma lição de moral, na vida real o voto é determinante para o futuro de cada eleitor cidadão.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Israel Leal é jornalista, especialista em Marketing Político, diretor da agência Inexxus Boa Viagem e idealizador do CT do Marketing Político

Narrativas eleitorais: O que esperar das próximas semanas?

Narrativas eleitorais: O que esperar das próximas semanas?

Artigo publicado originalmente no Jornal Folha de Pernambuco em 07/07/2022

Se houve um tempo em que a narrativa eleitoral do “eu prometo” funcionava, não há mais nem resquícios dele. O eleitor contemporâneo, um indivíduo digital e que traz consigo grande carga emocional, não será mais fisgado por meio de iscas lambuzadas de promessas vazias. Faltando cerca de três meses para as eleições, os cidadãos querem ouvir mais histórias parecidas com as histórias deles mesmos. Eles querem enxergar no seu candidato alguém próximo de verdade, que tenha a capacidade de curar suas dores personificadas na falta de políticas públicas e ausência do poder público em áreas que mais lhes interessam.

Pode parecer um paradoxo, mas criar esse discurso emocional e empático, que soe ao eleitor como uma franca conversa “olho no olho” é fruto de uma estratégia puramente racional, desenvolvida com técnicas de comunicação e marketing, como aquilo que chamamos de “storytelling”: a arte de desenvolver narrativas envolventes, muito utilizada em roteiros de Hollywood. É por isso que os grandes exemplos de sucesso na política sempre são acompanhados de histórias de vida emocionantes, cheias de reviravoltas e que trazem uma essência de semelhança com a vida das pessoas comuns e de inspiração para que essas mesmas pessoas se sintam parte de um processo de construção.

Barack Obama, com sua narrativa desenvolvida sob a frase “Yes, we can!” (Sim, nós podemos!), é um bom exemplo. Por si só, o lema da sua campanha vitoriosa para presidente dos Estados Unidos em 2008 gera empatia ao tratar do coletivo ao mesmo tempo em que inspira as pessoas a buscarem mais, dando-lhes a possibilidade do novo. No Brasil, Lula fez dois governos como “o pai dos pobres” e Bolsonaro foi eleito como “herói patriota”. Narrativas que funcionaram e que neste ano estão em rota de colisão.

Porém, olhando para o que vem fazendo os pré-candidatos a cargos proporcionais, fica claro que teremos nessas eleições dois tipos de narrativas nas propagandas que serão veiculadas na TV, no rádio, nas ruas e, sobretudo, na internet: os que entenderam que eleição se vence com empatia e estratégia e os que ainda acham que vão ganhar sem criar laços com quem estará indo às urnas no próximo dia 02 de outubro.

O segundo caso, infelizmente, ainda será maioria neste pleito. Desta forma, podemos esperar muitos discursos rasos, repetitivos e sem conexão com a realidade das pessoas, enquanto o eleitor quer saber, de forma clara e objetiva, os detalhes de como o trabalho do político vai agregar valor a aspectos importantes da sua vida. Também podemos esperar muito desconhecimento sobre as regras das eleições e sobre conceitos importantes do marketing, o que acarretará em propagandas extremamente chatas, invasivas e até passíveis de ações na justiça eleitoral.

Para o desespero do eleitor, poucos são os que estão se preparando para chamar a atenção pela tonalidade atrativa da narrativa e poucos são os que estão preocupados com que tipo de história as pessoas realmente querem ouvir. As chances de persuasão e de convencimento de quem não cuida da narrativa do discurso são mínimas, mas esses candidatos se farão mais presentes do que aqueles que, de fato, saberão se comunicar com eficiência. Portanto, o que precisaremos ter até o primeiro domingo de outubro, é muita paciência e olhos e ouvidos atentos para um ou outro candidato que vai falar de verdade conosco, nos dando a real chance de avaliação e escolha sobre dar-lhes ou não o nosso voto de confiança.

Israel Leal é jornalista, especialista em Marketing Político e diretor da agência Inexxus Boa Viagem 

Quando candidatos correm, eleitores se cansam

Quando candidatos correm, eleitores se cansam

Artigo publicado no jornal Folha de Pernambuco em 02 de junho de 2022

Talvez a maioria dos candidatos ainda não tenha se atentado para o fato de que a campanha eleitoral, que oficialmente se inicia no dia 16 de agosto, já vai começar com o eleitor saturado de tanta propaganda política. Em uma pré-campanha que se iniciou no dia seguinte ao término das eleições passadas, postulantes aos cargos do Legislativo e do Executivo – mandatários ou não – trabalham utilizando diversificados e exaustivos métodos para se fazerem conhecidos pela população.

De fato, o período pré-eleitoral é perfeito para mostrar às pessoas quem é o pré-candidato, de onde ele veio, o que pensa e o que defende. Como a Justiça Eleitoral proíbe qualquer ação que remeta ao pedido de votos fora da janela dos 45 dias de campanha, esse conjunto de informações trabalhadas antecipadamente deve objetivar a construção de uma imagem na mente do futuro eleitor.

No marketing político esse processo de construção é chamado também de reputação, e nada mais é do que uma ação de branding, movimento realizado no mundo corporativo para dar identidade e agregar valor a uma marca, a um produto ou a um serviço. Para qualquer um que almeje um cargo eletivo, trata-se de uma base fundamental para o processo gerativo do voto. Porém, na ânsia de se tornar conhecido e reconhecido, são cometidos erros que afastam o eleitor do bom debate político e, pior ainda, promovem a aversão política que não traz benefício a ninguém.

pai do marketing, Philip Kotler, define que: com intuito de melhorar o entendimento do público sobre uma marca é necessário empregar estratégias de identificação e diferenciação na definição dos elementos nome, objetivo, missão, visão, valores, posicionamento, arquétipos e personalidade. Eu diria que, neste período, criar mecanismos atrativos e não invasivos para garantir que o público compreenda cada um desses elementos é determinante para o sucesso de qualquer empreitada nas eleições de outubro. Porém, na prática o que ocorre é uma corrida desesperada pela atenção das pessoas sem um mínimo planejamento do que falar, de como falar ou de qual forma reter essa atenção.

Para qualquer pessoa comum que abre suas redes sociais com a intenção principal de obter entretenimento, a falta de tato dos pré-candidatos ao invadirem a timeline alheia para falar “politiquês” está criando uma barreira que será quase intransponível nos dias em que haverá permissão para pedir votos diretamente ao eleitor. A cada conteúdo ou ação incompreensível realizada, mais um tijolo é colocado neste muro que se ergue a cada dois anos e se reflete no grande percentual de abstenções (20,33% no primeiro turno de 2018, 21,30% no segundo turno do mesmo ano, 23,10% na primeira rodada de 2020 e 29,50% no último turno do pleito de dois anos atrás). Isso sem falar no quantitativo crescente de votos brancos e nulos.

As pessoas já estão saturadas e impacientes. Consequentemente, os candidatos terão que se empenhar para transpor diversas barreiras na tentativa de se comunicar com efetividade. E isso só será realidade se forem traçadas estratégias que proporcionem ao eleitor uma nova perspectiva sobre o que é participação política, a noção de como ele é importante nesta construção e a compreensão de qual é o papel do candidato ou da candidata no processo. A solução para criar uma boa reputação política, sem contribuir para a apatia eleitoral, é, portanto, entender que o cenário político no qual estamos imersos – além da digitalização das coisas e da própria evolução da sociedade – não permite mais a vitória pelo cansaço.

Israel Leal é jornalista e especialista em marketing político