Como iniciar a pré-campanha eleitoral

O encerramento de um período eleitoral marca o início de outro. Após as definições democráticas, é a vez das especulações voltarem a campo, dando novos movimentos ao xadrez político que cada vez mais demanda por estratégias bem construídas que possam gerar campanhas mais tranquilas e menos custosas. E dentro de qualquer estratégia, alguns fatores são fundamentais para a ampliação das chances de sucesso. Um deles (e talvez o mais importante) é o tempo. Todos os pré-candidatos a qualquer cargo eletivo em 2024 estão com este ativo em mãos nesse momento. Fará toda a diferença saber trabalhar com o tempo a partir de agora e diluir, ao longo de quase dois anos, todo um planejamento que culminará no dia das próximas eleições.

Além desse cuidado especial com o tempo, tenho dito a todos os pré-candidatos que me procuram para iniciar a pré-campanha que existem outros quatro pilares que devem ser erguidos e reforçados ao longo deste período. São eles: diagnóstico preciso e sincero do ambiente; branding e reputação; excelência no marketing digital; e nutrição cuidadosa de leads.


O primeiro ponto, o de diagnóstico, compreende entender bem qual o ponto de partida. Quais as forças, fraquezas e toda a conjuntura atual que precisa ser trabalhada para fundamentar um planejamento que resulte em vitória. Como ferramentas, devem ser utilizadas pesquisas qualitativas e quantitativas, análises de SWOT e softwares mapeamento de presença online. O trabalho de branding e de reputação, importantíssimo para qualquer um que tenha pretensões eleitorais, é outo ponto desse pilar. É aqui que se entrega ao possível eleitor motivos para que o nome de alguém seja cogitado como representante do povo. Neste ponto é fundamental o apoio técnico de quem possa ajudar a adequar a imagem de quem será lançado com as necessidades de quem vai votar.

O marketing digital surge como terceiro pilar e vem se consolidando mais a cada eleição dentro do marketing político-eleitoral. As novas estratégias de mobilização, comunicação e publicidade digital trouxeram aos que decidiram utilizar a inteligência de mercado ao seu favor o voto de um eleitor cada vez mais consciente do seu papel como cidadão. É um erro mortal ignorar os avanços e as tendências comportamentais e tecnológicas do momento e o trabalho profissional de marketing digital vai também colaborar com o último pilar, que certamente é o menos explorado hoje no marketing político: a captura de contatos qualificados, os chamados leads. Dados de contato do eleitor-alvo são como um diamante que pode ser lapidado ao longo do tempo por meio de uma comunicação segmentada e assertiva. Oportunidade única de conversar diretamente com o cidadão, falando o que ele quer ouvir ao mesmo tempo em que lhe é dado a possibilidade de feedbacks.

Concluo reforçando que é necessário quebrar paradigmas sobre eleição, esquecer algumas velhas práticas e adaptar outras. Mesmo após toda a evolução dos últimos pleitos, muitos bons candidatos têm se perdido na busca pelo voto ao fechar os olhos para as tendências. É tempo de estudar essas novidades e planejar as ações dos próximos meses. A execução de um planejamento robusto e focado nestes cinco pilares certamente irá proporcionar mais chances de êxito, e uma jornada mais tranquila até 2024.

Israel Leal é diretor do CT do Marketing Político e da agência Inexxus Boa Viagem – euisraelleal@gmail.com

Quando candidatos correm, eleitores se cansam

Quando candidatos correm, eleitores se cansam

Artigo publicado no jornal Folha de Pernambuco em 02 de junho de 2022

Talvez a maioria dos candidatos ainda não tenha se atentado para o fato de que a campanha eleitoral, que oficialmente se inicia no dia 16 de agosto, já vai começar com o eleitor saturado de tanta propaganda política. Em uma pré-campanha que se iniciou no dia seguinte ao término das eleições passadas, postulantes aos cargos do Legislativo e do Executivo – mandatários ou não – trabalham utilizando diversificados e exaustivos métodos para se fazerem conhecidos pela população.

De fato, o período pré-eleitoral é perfeito para mostrar às pessoas quem é o pré-candidato, de onde ele veio, o que pensa e o que defende. Como a Justiça Eleitoral proíbe qualquer ação que remeta ao pedido de votos fora da janela dos 45 dias de campanha, esse conjunto de informações trabalhadas antecipadamente deve objetivar a construção de uma imagem na mente do futuro eleitor.

No marketing político esse processo de construção é chamado também de reputação, e nada mais é do que uma ação de branding, movimento realizado no mundo corporativo para dar identidade e agregar valor a uma marca, a um produto ou a um serviço. Para qualquer um que almeje um cargo eletivo, trata-se de uma base fundamental para o processo gerativo do voto. Porém, na ânsia de se tornar conhecido e reconhecido, são cometidos erros que afastam o eleitor do bom debate político e, pior ainda, promovem a aversão política que não traz benefício a ninguém.

pai do marketing, Philip Kotler, define que: com intuito de melhorar o entendimento do público sobre uma marca é necessário empregar estratégias de identificação e diferenciação na definição dos elementos nome, objetivo, missão, visão, valores, posicionamento, arquétipos e personalidade. Eu diria que, neste período, criar mecanismos atrativos e não invasivos para garantir que o público compreenda cada um desses elementos é determinante para o sucesso de qualquer empreitada nas eleições de outubro. Porém, na prática o que ocorre é uma corrida desesperada pela atenção das pessoas sem um mínimo planejamento do que falar, de como falar ou de qual forma reter essa atenção.

Para qualquer pessoa comum que abre suas redes sociais com a intenção principal de obter entretenimento, a falta de tato dos pré-candidatos ao invadirem a timeline alheia para falar “politiquês” está criando uma barreira que será quase intransponível nos dias em que haverá permissão para pedir votos diretamente ao eleitor. A cada conteúdo ou ação incompreensível realizada, mais um tijolo é colocado neste muro que se ergue a cada dois anos e se reflete no grande percentual de abstenções (20,33% no primeiro turno de 2018, 21,30% no segundo turno do mesmo ano, 23,10% na primeira rodada de 2020 e 29,50% no último turno do pleito de dois anos atrás). Isso sem falar no quantitativo crescente de votos brancos e nulos.

As pessoas já estão saturadas e impacientes. Consequentemente, os candidatos terão que se empenhar para transpor diversas barreiras na tentativa de se comunicar com efetividade. E isso só será realidade se forem traçadas estratégias que proporcionem ao eleitor uma nova perspectiva sobre o que é participação política, a noção de como ele é importante nesta construção e a compreensão de qual é o papel do candidato ou da candidata no processo. A solução para criar uma boa reputação política, sem contribuir para a apatia eleitoral, é, portanto, entender que o cenário político no qual estamos imersos – além da digitalização das coisas e da própria evolução da sociedade – não permite mais a vitória pelo cansaço.

Israel Leal é jornalista e especialista em marketing político