06 Lições de “O Príncipe” para quem vai disputar uma eleição

Nicolau Maquiavel, renomado filósofo e político florentino do século XVI, deixou um legado duradouro com sua obra “O Príncipe”. Mesmo tendo sido concebido há mais de 500 anos, em um contexto de mundo bem diferente do nosso, este livro, escrito em forma de conselhos a um governante, oferece valiosas lições para aqueles que se preparam para uma disputa eleitoral. Compreendido da forma correta, “O Príncipe” é quase que um manual para o comportamento estratégico dos atores políticos de todos os tempos. Neste texto, exploro como esses 05 princípios maquiavélicos presentes no livro podem orientar poderosamente os aspirantes a cargos públicos durante suas campanhas eleitorais.

01. Manter o Controle e a Autoridade

“O príncipe que mais se baseia em palavras e menos em ações, acaba perdendo o poder”

Em “O Príncipe”, Maquiavel ressalta a importância de manter o controle e a autoridade sobre a situação política. Em uma campanha eleitoral, isso se traduz na necessidade de manter uma liderança clara e coerente sobre a mensagem, estratégias e ações. É crucial estabelecer uma presença marcante e transmitir uma imagem de confiança e competência perante o eleitorado.

02. Flexibilidade e Adaptação

“Aqueles que se adaptam melhor às novas situações são os que mais sobrevivem”

Maquiavel advoga pela flexibilidade estratégica, adaptando-se às circunstâncias e mudanças políticas. Em uma campanha, é vital reagir prontamente a eventos inesperados, ajustando a estratégia de acordo com a evolução da situação. A habilidade de ser ágil e moldar-se conforme as necessidades do eleitorado é fundamental para garantir uma campanha bem-sucedida.

03. Mistura de Carisma e Temor

“É melhor ser amado do que temido, se for possível, mas é difícil alcançar esse resultado”

O filósofo florentino destaca a importância de equilibrar carisma com uma dose de temor para conquistar e manter o apoio. Na política moderna, isso se traduz em criar uma imagem carismática e autêntica que atraia eleitores, ao mesmo tempo em que se demonstra firmeza e determinação nas propostas e ideais apresentados.

04. Utilização Eficaz da Propaganda

“Os homens sempre julgarão mais pelos olhos do que pelos ouvidos”

Maquiavel ressalta a necessidade de manipular a opinião pública através da propaganda. Na contemporaneidade, isso significa utilizar as ferramentas de marketing eleitoral para apresentar propostas de forma persuasiva e positiva. Comunicação clara e estratégias de mídia bem planejadas são essenciais para moldar a percepção do eleitorado.

05. Alianças e Coalizões Estratégicas

“Os que confiam nas forças deles próprios, fracassam, mas os que confiam na defesa dos outros, são sempre mencionados”

Maquiavel enfatiza a formação de alianças e coalizões para fortalecer o poder e a estabilidade política. Na arena eleitoral, essa lição é valiosa, já que a construção de parcerias estratégicas pode ampliar o alcance da campanha, agregando apoio e recursos importantes.

06. Conhecimento do Eleitorado e Adaptação da Mensagem

“Cada um vê o que você parece ser, poucos tocam o que você é.”

A importância de compreender verdadeiramente a percepção pública e manipular essa imagem é uma abordagem presente na obra. Conhecer profundamente as características, necessidades e preferências do eleitorado é crucial para orientar a estratégia de campanha. Assim como Maquiavel propõe conhecer bem o território que se governa, compreender a realidade e os anseios da população é a base para uma campanha eleitoral eficaz. Adaptar a mensagem de acordo com as particularidades do público-alvo é fundamental para conquistar sua confiança e apoio.

Conclusão: A obra “O Príncipe” de Maquiavel oferece insights atemporais sobre estratégia política e liderança que continuam a ressoar na contemporaneidade. Para os aspirantes a cargos públicos, compreender e aplicar essas lições pode fazer a diferença entre uma campanha eleitoral bem-sucedida e um resultado menos favorável. A arte de conquistar o poder e a confiança dos eleitores, alinhada com as estratégias de Maquiavel, pode ser a chave para o sucesso em um contexto eleitoral desafiador.

Israel Leal

“Vice” e o poder estratégico do silêncio

Parar a rotina puxada em prol do entretenimento não é uma tarefa fácil. Mas, após muitas recomendações, inclusive do prof. Marcelo Vitorino ao longo da “Imersão Eleições – Pré-campanha”, evento do qual tive o prazer de participar na Capital Federal, me esforcei para encontrar um tempo que pudesse dedicar ao filme “Vice”, disponível no Prime Vídeo. Não me arrependi, aprendi muito mais do que esperava e adicionei um novo título na lista dos meus favoritos. O longa, dirigido por Adam McKay e estrelado brilhantemente por Christian Bale, conta de uma forma inteligente e peculiar a trajetória do ex-vice-presidente norte-americano Dick Cheney.

De autoria desconhecida, a intrigante citação “Cuidado com um homem calado. Enquanto os outros falam, ele observa. E enquanto os outros agem, ele planeja. E quando finalmente descansam… ele ataca“, surge no roteiro como um ponto de partida para o mergulho na ascensão e influência política de Cheney, mostrando como suas características silenciosas mascararam um poderoso jogo de bastidores e estratégias de marketing político.

Ao longo de sua carreira, o vice no governo de George W. Bush adotou uma abordagem discreta e reservada, evitando os holofotes enquanto acumulava um impressionante capital político por meio do conhecimento profundo dos cenários e da construção de uma rede de conexões influentes. Essa tática lhe permitiu operar nos bastidores, influenciando decisões cruciais sem chamar muita atenção.

A citação volta à nossa mente em vários momentos nas mais de duas horas de filme e destaca como Cheney usava sua capacidade de observação para entender os atores políticos ao seu redor. Essa habilidade permitia que ele identificasse as fraquezas e aspirações de seus colegas, dando-lhe uma vantagem estratégica significativa. Sua natureza quieta o ajudou a cultivar relacionamentos e a coletar informações valiosas, elementos cruciais no marketing político.

O planejamento meticuloso de Cheney é outro aspecto fundamental abordado no longa. Enquanto outros estavam focados no cenário imediato, ele estava constantemente traçando estratégias de longo prazo. Ele compreendia que o poder político não era apenas sobre ocupar cargos, mas sim sobre influenciar políticas e direcionar a agenda nacional.

A frase estampada no início do filme também ressoa quando Cheney “ataca” e mostra incrível capacidade de tomar decisões com timing e determinação. Sua abordagem cautelosa lhe permitia esperar pelo momento oportuno para agir e implementar suas políticas, frequentemente com impacto duradouro. Essa qualidade é evidente em sua influência sobre questões como a Guerra do Iraque e as políticas de segurança nacional após o fatídico 11 de setembro de 2001.

Do ponto de vista do marketing político, Cheney usou sua personalidade aparentemente monótona e reservada a seu favor. Ao subestimarem sua presença e suas ambições, seus oponentes e o público em geral ficaram desprevenidos quanto à profundidade de sua influência. Esse contraste entre sua imagem pública e sua habilidade estratégica real é uma lição valiosa sobre como a percepção pode ser moldada para se alinhar aos objetivos políticos.

A trajetória de Dick Cheney é um lembrete poderoso de que nem sempre o poder político se manifesta de maneira ruidosa e visível. Às vezes, está nas mãos daqueles que optam por observar, planejar e atacar no momento certo, utilizando suas habilidades para moldar o curso da história.

O Pop não poupa ninguém, nem mesmo os políticos

Artigo publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco do dia 27 de Julho de 2023

A aproximação entre a política brasileira e a cultura pop tem se tornado uma tendência marcante nos últimos anos. O filme da icônica boneca Barbie gerou trends e memes replicados por milhões de pessoas em todo o mundo, e durante a semana de lançamento do longa-metragem, as redes sociais de políticos e órgãos públicos se encheram de imagens e vídeos, onde tons de rosa coloriam os feeds dos seguidores. Até o ex-presidente Michel Temer entrou na onda, publicando um vídeo (excluído posteriormente), no qual aparece caracterizado como o boneco Ken, par romântico da personagem principal.

Essa utilização de artifícios midiáticos, a presença de figuras da classe artística e o uso de referências da cultura pop têm sido estratégias adotadas pelos políticos com o intuito de alcançar um público mais amplo e diversificado. Acredito que duas razões principais embasem essa escolha. Em primeiro lugar, a cultura pop se revela uma forma altamente eficaz de comunicação, capaz de atingir um público vasto e estabelecer conexões emocionais profundas. Em segundo lugar, a cultura pop é de fácil acesso e familiaridade ao grande público, tornando-se uma ferramenta atrativa para a política, dada sua capacidade de se inserir no consciente coletivo.

Tal como eu, todos os estrategistas de comunicação e marketing político adoram surfar nas ondas das tendências do momento, especialmente quando elas estão ancoradas em fenômenos midiáticos, como no caso de Barbie. Isso se deve à potencialização que tal abordagem confere ao processo comunicacional. Um dos benefícios notáveis é tornar a política mais acessível às pessoas. Quando os políticos se utilizam da cultura pop, conseguem comunicar-se em níveis mais pessoais e em linguagem mais acessível. Outro aspecto favorável é que a cultura pop pode tornar a política mais atraente para os jovens, pois essa geração possui grande afinidade com a cultura pop e consome-a avidamente. Ao utilizar referências pop, os políticos podem conectar-se com os jovens e motivá-los a engajarem-se na política.

Entretanto, por mais atrativo que seja o engajamento resultante, expor-se por meio da cultura pop pode também trazer riscos. O entendimento mais fundamental neste sentido é entender que a política não deve ser reduzida a um mero espetáculo midiático, onde o entretenimento sobrepõe-se à seriedade dos problemas enfrentados. O próprio político que se rende à tentação de seguir uma trend como a da Barbie sem uma estratégia bem definida vai atrair os holofotes para si mesmo, revelando, em muitos casos, a falta de entregas e comprometimento com a população.

Ademais, a glamorização da política por meio de associações com o mundo pop pode criar uma ilusão de competência e habilidade que nem sempre se traduz em efetivas mudanças sociais. E, em um nível mais grave, o apelo emocional e a ênfase na imagem podem levar a um engajamento superficial dos eleitores, comprometendo o debate informado e a participação consciente na democracia.

Nesse contexto, é crucial utilizar esse artifício de forma responsável, como uma ferramenta para conectar-se com os eleitores e, ao mesmo tempo, promover debates informados e soluções concretas para os problemas do cotidiano. A política deve ir muito além do entretenimento; deve ser o meio de transformar a realidade e melhorar a vida dos cidadãos.

Como cantam os Engenheiros do Hawaii: “Qualquer coisa que se mova é um alvo e ninguém tá salvo… O pop não poupa ninguém!“, nem mesmo os políticos. Por isso, é necessário um equilíbrio cuidadoso entre a abordagem pop e o compromisso com a responsabilidade, a seriedade e a efetividade na atuação política. Somente assim será possível ser pop, conquistar o apoio verdadeiro da população e efetivamente fazer a diferença no cenário político do país.

Israel Leal é jornalista, consultor e diretor do CT do Marketing Político (euisraelleal@gmail.com)

“Os Engenheiros do Caos” e a inelegibilidade de Bolsonaro

A mente humana é um campo fértil onde a engenhosidade política pode semear a discórdia ou cultivar a esperança. Em ‘Os Engenheiros do Caos’, Giuliano Da Empoli mergulha em uma análise profunda dos bastidores do mundo digital e revela como estrategistas políticos têm explorado as redes sociais para manipular a opinião pública. Nesta obra, o autor desvenda as táticas obscuras usadas para criar crises, gerar polarização e moldar a percepção das massas.

Traçando um paralelo com o julgamento de Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), percebemos a importância de compreender o poder da comunicação política no contexto eleitoral. Por mais que o objeto da matéria julgada não seja voltado diretamente para as redes sociais bolsonaristas, o desfecho desse julgamento teve um impacto significativo, resultando na condenação e inelegibilidade do ex-presidente do Brasil pelos próximos oito anos. E tudo cai na conta de uma estratégia de comunicação orientada para a polêmica e para o contraditório.

Durante seu mandato, Bolsonaro utilizou amplamente as redes sociais como plataforma de comunicação direta com seus eleitores. Seus discursos incisivos e polarizadores ecoaram fortemente na internet, alcançando um público considerável e gerando debates acalorados que romperam a barreira do digital e pautaram o noticiário político em todas as mídias tradicionais. Essa habilidade em engajar a base de apoio foi uma das características marcantes de sua campanha eleitoral e de sua gestão.

No entanto, é fundamental refletir sobre o impacto dessa estratégia de comunicação política no contexto democrático. Da Empoli destaca em seu livro como o uso indiscriminado das redes sociais pode gerar uma desestabilização da ordem política, manipulando informações e gerando tensões sociais. O julgamento no TSE é um reflexo da preocupação das instituições em garantir eleições livres e justas, protegendo a integridade do processo democrático. Um recado em alto e bom som que deve ser levado em consideração pelos estrategistas e comunicólogos políticos.

Sem entrar no mérito do certo ou errado na comunicação bolsonarista ou de qualquer outro grupo político, precisamos ressaltar a importância de um debate público esclarecedor, baseado em informações confiáveis e responsáveis. Os novos meios de interação social e as novas tecnologias favorecem o surgimento de canais duvidosos e mensagens desgarradas da verdade. A sociedade precisa ser capaz de discernir entre estratégias políticas manipuladoras e propostas genuínas para uma governança efetiva.

A condenação e inelegibilidade de Jair Bolsonaro por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação representa um lembrete de que, embora as redes sociais e os demais meios de comunicação sejam ferramentas poderosas que podem ser utilizadas tanto para o bem quanto para o caos, elas não são “terra de ninguém”. Como cidadãos, devemos estar atentos aos mecanismos que moldam nossa percepção e questionar a veracidade das informações que nos são apresentadas. E como profissionais de comunicação precisamos nos comprometer ainda mais com a verdade, independentemente do tipo de estratégia que utilizaremos. Somente assim poderemos ajudar a construir uma sociedade mais crítica, resiliente e democrática.

Do rancho ao poder: O que a série Yellowstone ensina aos políticos

Os valiosos insights e lições da série mais assistida dos EUA para a política moderna

A série de televisão “Yellowstone” conquistou um público fiel ao retratar o mundo implacável do rancho de gado liderado por John Dutton e sua família. Embora a trama se desenvolva no contexto da indústria pecuária, é surpreendente como os eventos e as dinâmicas mostradas podem fornecer insights valiosos para o mundo da política, uma vez que as relações dos Dutton com figuras políticas do estado de Montana (EUA) ditam o direcionamento do roteiro. Neste artigo, exploraremos algumas lições que a série Yellowstone pode nos ensinar sobre a política moderna, oferecendo uma visão perspicaz sobre estratégias, poder e tomada de decisões.

A importância do planejamento estratégico: Em Yellowstone, John Dutton demonstra a importância de um planejamento estratégico sólido. Assim como na política, antecipar os movimentos dos adversários e identificar oportunidades é fundamental para alcançar o sucesso. Dutton utiliza estratégias bem elaboradas para proteger seu território e garantir a sobrevivência de seu império. Na política, um planejamento estratégico cuidadoso pode ajudar a estabelecer uma base sólida para campanhas eleitorais e a tomar decisões informadas que impactam diretamente o futuro.

A construção e manutenção de alianças: Ao longo da série, vemos a importância das alianças políticas para enfrentar desafios em comum. Na política, a construção de coalizões e alianças é essencial para fortalecer a base de apoio e avançar com uma agenda política. Coligações estratégicas podem proporcionar maior influência, recursos e apoio público, ampliando as chances de sucesso em eleições e na implementação de políticas.

A gestão de crises e conflitos: Yellowstone retrata situações de crise e conflito que exigem habilidades de gestão assertivas. No cenário político, a capacidade de lidar com crises de forma eficaz é crucial para manter a confiança do eleitorado. Ações rápidas, transparência e a busca por soluções equilibradas são fundamentais para superar obstáculos e preservar a imagem política.

O poder da comunicação persuasiva: A série enfatiza o poder da comunicação persuasiva, uma habilidade valiosa na política. Personagens como John Dutton usam sua oratória convincente para conquistar aliados, influenciar a opinião pública e garantir o apoio necessário para seus objetivos. Na política moderna, a habilidade de articular uma mensagem clara, autêntica e persuasiva é essencial para mobilizar eleitores e conquistar a confiança do público.

A importância da integridade: Ao longo de Yellowstone, vemos personagens lutando com questões de integridade moral. A série nos lembra que a política, assim como qualquer esfera de poder, requer líderes éticos e comprometidos com o bem comum. A integridade pessoal é uma virtude que pode construir uma base sólida de confiança e credibilidade com o eleitorado.

Concluindo, a série Yellowstone, disponível no Brasil pelo Paramount+, oferece uma visão fascinante do mundo da política através de suas tramas complexas e personagens cativantes. Ao explorar os insights apresentados pela série, podemos extrair lições valiosas para a política moderna, desde a importância do planejamento estratégico até a construção de alianças, a gestão de crises, a comunicação persuasiva e a manutenção da integridade. Ao aplicar esses princípios, os políticos podem melhorar suas estratégias e aumentar suas chances de sucesso no cenário político cada vez mais desafiador.