Redes sociais na política brasileira: oportunidades e desafios

Nos últimos anos, as redes sociais têm se tornado uma presença cada vez mais constante na política brasileira. Desde as eleições presidenciais de 2018, o uso de aplicativos de mensagens instantâneas e redes sociais se tornou uma questão central no cenário político do país. A capacidade dessas plataformas de alcance de massa, combinada com a facilidade de compartilhar informações, tornou-as uma ferramenta poderosa para divulgação de conteúdo e mobilização de eleitores.

Com a pandemia de COVID-19, a tendência de digitalização das campanhas políticas foi intensificada, já que muitas atividades presenciais foram forçadas a se tornarem virtuais. Em 2020, as campanhas políticas foram em grande parte digitais, com candidatos e apoiadores aproveitando o poder das redes sociais para se comunicar com os eleitores.

No entanto, a utilização das redes sociais na política também tem gerado preocupações em relação à integridade das eleições e à disseminação de informações falsas. A polarização política, a manipulação de dados e a falta de regulamentação adequada são alguns dos riscos associados ao uso excessivo e irresponsável das redes sociais na política.

É importante destacar que a utilização das redes sociais na política não se limita apenas à disseminação de informações. As redes sociais também podem ser uma ferramenta poderosa para promover a participação democrática. Elas permitem que grupos marginalizados e movimentos sociais que, muitas vezes, são excluídos da mídia tradicional, tenham voz e se mobilizem em prol de seus objetivos.

A comunicação política através das redes sociais pode ser uma via de mão dupla, permitindo que os eleitores interajam com os candidatos, e não apenas recebam mensagens unilaterais. Isso pode levar a um maior engajamento do eleitorado e a uma participação mais ativa na política.

No entanto, para que as redes sociais sejam utilizadas de forma ética e responsável na política, é necessário que as informações compartilhadas sejam precisas e baseadas em fatos. Além disso, a regulamentação e a transparência no uso de dados são essenciais para proteger a integridade das eleições e a privacidade dos usuários.

Um equilíbrio cuidadoso entre a utilização responsável e a regulamentação adequada é fundamental para preservar a integridade e transparência das comunicações online. Por isso, é importante que todos os atores políticos, desde os candidatos até as plataformas de redes sociais, trabalhem juntos para garantir que as eleições futuras sejam justas e democráticas.

A polarização política e a disseminação de informações falsas podem comprometer a integridade do processo eleitoral, mas as redes sociais também oferecem oportunidades para uma maior participação democrática. É importante que a sociedade brasileira esteja ciente dos riscos e benefícios do uso das redes sociais na política e que sejam tomadas medidas para garantir que essas plataformas sejam usadas de forma ética e responsável. Somente assim, poderemos ter eleições justas e democráticas no futuro.

O caráter decisivo da campanha eleitoral na internet

O caráter decisivo da campanha eleitoral na internet

Artigo publicado originalmente no jornal Folha de Pernambuco, em 28/04/2022

As eleições mais digitais de todos os tempos estão se aproximando e os seus sinais são vistos por todos os lados, mesmo com muitos pré-candidatos ainda insistindo em subestimar a comunicação com os eleitores nos canais proporcionados pela internet. Ainda que todos os indícios apontem para que o pleito deste ano seja definido pelas ações que seus principais atores desenvolverão no mundo online, o amadorismo no marketing político digital ainda se mostra muito latente.

É importante frisar que as eleições majoritárias e proporcionais de 2018 já tiveram um viés digital decisivo com a utilização massiva – ainda sem muita regulamentação – de aplicativos mensageiros, como Whatsapp e Telegram, para a mobilização de militância e multiplicação de conteúdo. Já em 2020, a popularização e a profissionalização na utilização de anúncios impulsionados de forma segmentada nas redes sociais fizeram a grande diferença na campanha do candidato online.

Dois anos atrás, a pesquisa Eleitor Conectado, iniciativa da Presença Online, já apontava para um cenário irreversível sobre o comportamento das pessoas no consumo de conteúdo relacionados à política. O levantamento escancarou a predileção do brasileiro pela comunicação online: enquanto 55% dos entrevistados disseram que utilizam redes sociais todos os dias para consumir informações locais, apenas 32% apontaram fazer o mesmo com a TV. Porém, o dado mais revelador foi acerca de como o eleitor se informa melhor sobre um candidato durante a campanha eleitoral: 52% responderam que faziam isso todos os dias via Redes Sociais; 36% através de conversa com amigos; 34% por meio de sites e blogs; e somente 15% das pessoas disseram que acompanham diariamente o horário eleitoral gratuito.

Dados atuais, segundo pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box, mostram que o Whatsapp está instalado em 99% dos smartphones do Brasil e que 93% das pessoas usam o aplicativo todos os dias. Aliado a isso, surgem novos canais (como o TikTok) e formatos (como os vídeos Reels) atrativos, que ampliam as possibilidades da campanha digital. Tudo isso tornará mais assertiva a comunicação com o eleitor, mesmo sendo este um processo eleitoral mais vigiado na internet – o Tribunal Superior Eleitoral promete tolerância zero para a disseminação de notícias falsas e para o envio de mensagens em massa por meio de aplicativos.

Sabendo, portanto, que na internet estão caminhos promissores de relacionamento com o eleitor, muitos pré-candidatos ainda cometem o erro de esperar o período eleitoral para cair de cabeça na rede. Uma vez que o TSE não proíbe a pré-campanha na internet ou o impulsionamento de conteúdo (desde que não haja abuso de poder econômico, disparo em massa ou pedido de votos), sai na frente quem começa a trabalhar cedo. A comprovação vem da Meta, empresa que controla Facebook e Instagram, e que divulgou recentemente que, apenas nos três primeiros meses de 2022, quase R$ 10 milhões foram investidos em impulsionamento de conteúdo político nas duas plataformas.

Vence a eleição quem se comunicar melhor com o eleitor. E para que isso aconteça, é necessário ocupar os mesmos espaços que o público-alvo pelo maior tempo possível e com estratégias não invasivas de persuasão. Na batalha pelo voto na internet, não basta apresentar as melhores ideias, ter o discurso mais bonito ou mesmo tentar encher os olhos das pessoas com luzes e holofotes. Para atrair o eleitor digital de 2022 será preciso superar o desafio de gerar conexão e relacionamento sem ultrapassar os limites legais. E para isso, será exigido tanto do candidato quanto da sua equipe: planejamento, muita criatividade, alinhamento com as principais tendências, conhecimento das regras do jogo, e mangas arregaçadas para o trabalho pesado que está por vir.

Israel Leal é jornalista e especialista em Marketing Político